You may reach out to artist Delia de Carvalho directly:
www.deliadecarvalho.art
deliadecarvalho@gmail.com
IG: deliadecarvalho
Sobre a técnica
O meu trabalho é fruto de um processo intuitivo. Deixo-me levar pelo momento e à medida que vou acrescentando linhas, pontos, arabescos e manchas começa então a ter lugar uma espécie de diálogo com as formas que vão surgindo. Trata-se de um momento de pura libertação e despojamento do mundo envolvente. Quando parto para a tela ou para o papel branco não trago comigo uma imagem preconcebida, apenas avanço com uma vontade de deixar acontecer. Nesse processo convoco todos os meus Eus, as minhas influências, os meus desejos e inclusive as minhas inseguranças e hesitações. Um quadro terminado implica sempre que uma parte de mim acabou de se revelar. Trata-se de uma “luta” de vários possíveis que me constituem e que resultam numa imagem única e irrepetível.
Nesta série, em particular, interessam-me as texturas, as composições e as camadas de cor -cativam-me as experiencias plásticas com as cores. Além das formas, procuro que também as cores ocupem um lugar de destaque no meu trabalho - creio que aqui, mesmo que de um modo inconsciente, estou a brincar ao Fauvismo. Gosto de explorar as cores de uma forma livre sem quaisquer relações com o real.
As paisagens são apenas um veículo para me expressar. No ato da criação, o meu trabalho flui melhor se estiver despojada de pensamentos ou expectativas - procuro apenas usufruir do processo e deixar-me conduzir pela exploração sem me impor travões ou preocupações.
Interessam-me as múltiplas reinterpretações que os outros possam ter acerca do meu trabalho e que os meus quadros convidem o espectador a ver, a olhar, a sentir e a interpretar sem que para isso seja necessário descodificar o que neles se representa, deixar que a riqueza e a diversidade interpretativa dos outros tenham lugar.
“Teríamos dificuldade em acreditar que a paisagem não passa de um artifício, mesmo que disso déssemos provas. É que a paisagem está ligada a demasiadas emoções, a demasiadas infâncias, a demasiados gestos (…)”
Anne Cauquelin
Sobre a série 'Paisagens", "Landscapes"
Para além dos temas a que mais nos habituou e, para nosso prazer, nos fez habitar – rostos, gatos, plantas, recantos da casa – eis a paisagem no imaginário da pintura de Délia de Carvalho. E como nos redimem estas imagens plenas de frescura e vibração cromática num tempo em que sabemos que a Natureza está “zangada” connosco e que a paisagem se encontra ameaçada por todo o género de voracidades destrutivas, em que cada vez menos nos reconhecemos diante de terras abandonadas, carbonizadas e eucaliptizadas.
Mesmo que inconsciente, há sempre um Éden, um paraíso perdido no nosso imaginário cultural. Mesmo que o paraíso nunca tenha existido (nem no Taiti de Gauguin), a ideia de uma Natureza e de uma paisagem aquém dos erros da civilização pode servir de recurso ou contraponto imaginário à devastação das mesmas. Lembrando quanto as coisas podiam ser melhores, mais habitáveis e mais belas. Recuperar esse “Eden” para a superfície da tela pode constituir um gesto ético e político, uma causa cívica em comunhão com o artístico e o estético.
Ademais, é também um gesto irreverente e desafiador face a muita arte contemporânea cúmplice e complacente com o poder e o dinheiro, portadora de um discurso estético e de um imaginário artístico nihilista, ensimesmado, ininteligível e gratuitamente provocador que abunda em muitas paredes e soalhos de galerias e museus.
“A paisagem, sabemo-lo, não é «natural», mas, apesar disso – lembra ainda Anne Cauquelin – é mais verdadeira do que o fantasma que oferece a máquina!” neste ambiente civilizacional pós-moderno em que, demasiado embevecidos e embriagados pelas prometidas maravilhas de uma tecnologia tornada teleológica, nos vamos afastando e perdendo de nós mesmos e danificando a paisagem.
Não esquecendo os valores plásticos destas pinturas – claramente, o domínio da cor e da composição – há que considerar que sim, que a pintura de Délia de Carvalho é um refresco poético para os nossos olhos, pela singeleza desarmante que delas se solta. Temos assim diante de nós paisagens que representam um espaço quase aperspectico, uma proximidade calorosa um aqui quente e afectivo. Sem deixar, repito, de constituir um gesto esteticamente ousado, pela sua desarmante simplicidade, em contramão a muito pretensiosismo e nihilismo que impregna uma boa parte – felizmente, não toda – da arte contemporânea.
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